12º Encontro : O Caminho
percorrido ...
Sempre que nos encontrávamos na academia
era um motivo de satisfação. Dei um presente. Um livro de Haruki Murakami : “Do
que eu falo quando falo em Corrida”.Meu amigo abriu o pacote e um largo
sorriso, agradecido. Fiz uma dedicatória desejando três décadas de corridas e
de saúde !!
Fomos aos exercícios...
Lá pelas tantas, ele comentou dos
resultados efetivos da quimioterapia, no seu PSA : de 8,6 em maio, para 0,58
agora em setembro. Era a quinta quimioterapia. A expectativa era de uma série
de seis aplicações. Estava debilitado , mas satisfeito com os resultados.Ai me perguntou se lembrava , há quanto
tempo esta lutando com esta doença? Não soube responder com precisão, nem
tentei arriscar. Ele então me disse com certa euforia:
— Dois anos.
Completei em junho.
Daí,
começamos a recordar os primeiros momentos: da suspeita, até a confirmação da
biopsia e exames complementares. O inicio do tratamento e os bons resultados no
uso da medicação. Até que não funcionou mais e nova alternativa de médico. Opção
por outra forma de tratar: quimioterapia.
Os meses passam rápido, a vida também...
Estava
ganhando tempo e isto é tudo que precisava nesta fase . A perspectiva de
suspender as quimios, a partir de outubro enche meu amigo de expectativa . Terá
um verão pela frente, bem diferente do inverno chuvoso e frio que passou,
enfurnado em casa, sem muitas atividades, nem as caminhadas na rua.
Disse-lhe o
médico que, sessenta dias após parar com o tratamento, cessam os efeitos no
organismo e a regeneração das células começa a acontecer de forma gradativa Por
isso seu entusiasmo, não só com o cabelo, a cor da pele, mas especialmente pela
corrida, pelo qual era um apaixonado.
A propósito
questionei sobre suas paixões e motivações. Ele pensou e elencou as que julgava
mais significativas. Apaixonado pela vida, pela família e pelos amigos. Pela
atividade física, em especial a corrida e o esporte. Apaixonado pelo Grêmio e
alguma paixão secreta, deixada pelo caminho...
Motivação ? O
trabalho e sua capacidade de se amoldar a novas situações. Quem tem comércio e
tem que enfrentar diariamente, legislação, equipamentos, software , fluxo de
caixa e recursos humanos. Fica como malabarista de circo, com os vários
pratinhos girando e não podendo deixar cair nenhum.
Neste balanço
que fizemos, no período de dois anos, recordamos de muitos amigos e conhecidos,
que partiram em definitivo. Alguns colegas da academia, saudáveis e praticantes
de esporte. Acidentes cardiovasculares e razões fulminantes. Outros motivados
por doenças já adquiridas ao longo dos anos e que culminaram com o óbito. O que
prova em definitivo que ninguém tem sua hora anunciada e só Ele dá e Ele tira,
no momento certo. Perguntei-lhe também de outras lembranças marcantes que
ficaram deste período de tratamento?
— Dos
profissionais de Saúde, nos laboratórios, clinicas e hospitais. A gentileza e
carinho com que atendem. Fica acima do profissionalismo, supera a expectativa
dos pacientes, que como eu , busco seus serviços, na esperança de melhora e
conforto.
Ele lembrou
uma recepcionista de um Hospital, onde fazia as quimios. Sempre sorridente e prestativa.
Dizia ela que, agradecia a Deus todos os dias antes de vir para o trabalho, por
poder trabalhar na Área da Saúde . Ter contato e ajudar pessoas que vinham
inicialmente para uma consulta, depois para exames e por decorrência, para
tratamento. Ela acompanhava a todos, com a mesma e devotada atenção. As
enfermeiras do Bloco do Câncer , quase uma dúzia, ele as conhecia pelo nome e
elas vinham cumprimentá-lo, mesmo que não estivessem na escala, para atendê-lo.
Isto amenizava o peso de seu fardo e todas tinham uma palavra de conforto , fé
e esperança no resultado do tratamento.
Disse-me que
estava na hora de voltar ao CAPC (Centro de Apoio ao Paciente com Câncer) no
Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. Tinha ligado e estava aguardando o
agendamento. Era uma maneira de recarregar as baterias físicas e espirituais,
que lhe faziam tanto bem.
JT Brum 2018
Torço pelas corridas no verão!
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