segunda-feira, novembro 19, 2018



12º Encontro : O Caminho percorrido ...

Sempre que nos encontrávamos na academia era um motivo de satisfação. Dei um presente. Um livro de Haruki Murakami : “Do que eu falo quando falo em Corrida”.Meu amigo abriu o pacote e um largo sorriso, agradecido. Fiz uma dedicatória desejando três décadas de corridas e de saúde !!
 Fomos aos exercícios...
Lá pelas tantas, ele comentou dos resultados efetivos da quimioterapia, no seu PSA : de 8,6 em maio, para 0,58 agora em setembro. Era a quinta quimioterapia. A expectativa era de uma série de seis aplicações. Estava debilitado , mas satisfeito com os resultados.Ai me perguntou se lembrava , há quanto tempo esta lutando com esta doença? Não soube responder com precisão, nem tentei arriscar. Ele então me disse com certa euforia:
— Dois anos. Completei em junho.
Daí, começamos a recordar os primeiros momentos: da suspeita, até a confirmação da biopsia e exames complementares. O inicio do tratamento e os bons resultados no uso da medicação. Até que não funcionou mais e nova alternativa de médico. Opção por outra forma de tratar: quimioterapia.
 Os meses passam rápido, a vida também...
Estava ganhando tempo e isto é tudo que precisava nesta fase . A perspectiva de suspender as quimios, a partir de outubro enche meu amigo de expectativa . Terá um verão pela frente, bem diferente do inverno chuvoso e frio que passou, enfurnado em casa, sem muitas atividades, nem as caminhadas na rua.
Disse-lhe o médico que, sessenta dias após parar com o tratamento, cessam os efeitos no organismo e a regeneração das células começa a acontecer de forma gradativa Por isso seu entusiasmo, não só com o cabelo, a cor da pele, mas especialmente pela corrida, pelo qual era um apaixonado.
A propósito questionei sobre suas paixões e motivações. Ele pensou e elencou as que julgava mais significativas. Apaixonado pela vida, pela família e pelos amigos. Pela atividade física, em especial a corrida e o esporte. Apaixonado pelo Grêmio e alguma paixão secreta, deixada pelo caminho...
Motivação ? O trabalho e sua capacidade de se amoldar a novas situações. Quem tem comércio e tem que enfrentar diariamente, legislação, equipamentos, software , fluxo de caixa e recursos humanos. Fica como malabarista de circo, com os vários pratinhos girando e não podendo deixar cair nenhum.
Neste balanço que fizemos, no período de dois anos, recordamos de muitos amigos e conhecidos, que partiram em definitivo. Alguns colegas da academia, saudáveis e praticantes de esporte. Acidentes cardiovasculares e razões fulminantes. Outros motivados por doenças já adquiridas ao longo dos anos e que culminaram com o óbito. O que prova em definitivo que ninguém tem sua hora anunciada e só Ele dá e Ele tira, no momento certo. Perguntei-lhe também de outras lembranças marcantes que ficaram deste período de tratamento?
— Dos profissionais de Saúde, nos laboratórios, clinicas e hospitais. A gentileza e carinho com que atendem. Fica acima do profissionalismo, supera a expectativa dos pacientes, que como eu , busco seus serviços, na esperança de melhora e conforto.
Ele lembrou uma recepcionista de um Hospital, onde fazia as quimios. Sempre sorridente e prestativa. Dizia ela que, agradecia a Deus todos os dias antes de vir para o trabalho, por poder trabalhar na Área da Saúde . Ter contato e ajudar pessoas que vinham inicialmente para uma consulta, depois para exames e por decorrência, para tratamento. Ela acompanhava a todos, com a mesma e devotada atenção. As enfermeiras do Bloco do Câncer , quase uma dúzia, ele as conhecia pelo nome e elas vinham cumprimentá-lo, mesmo que não estivessem na escala, para atendê-lo. Isto amenizava o peso de seu fardo e todas tinham uma palavra de conforto , fé e esperança no resultado do tratamento.
Disse-me que estava na hora de voltar ao CAPC (Centro de Apoio ao Paciente com Câncer) no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. Tinha ligado e estava aguardando o agendamento. Era uma maneira de recarregar as baterias físicas e espirituais, que lhe faziam tanto bem.  

JT Brum 2018

 

 


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