9º Encontro : Aonde está a criança feliz que habitava aqui?
O encontro na Academia era todas as manhãs. Nas terças e
quintas feiras meu amigo ia correr com o grupo de Corridas. Ai era só um papo
rápido . Nos demais dias, tínhamos tempo para nossas conversas e considerações
sobre o dia a dia.
Neste dia, ele manifestava a inquietação com o resultado dos
exames e PSA. Depois de começar a tomar a nova medicação (Abiraterona) há alguns
meses, os números não representavam melhora nos índices. Ao contrário, subiam a
cada mês.
A família em polvorosa, buscava entender o que estava
acontecendo, mas sem conhecimentos suficientes, sobre o que fazer e como
proceder. O Oncologista de posse dos resultados e avaliando o período
decorrido, sugeriu mudar para outro medicamento chamado de Enzoladamida.
Nestas alturas , os filhos buscando alternativas, marcaram
uma consulta com outro oncologista. Um médico mais novo e mais afeito as
novidades dos tratamentos , pesquisas e estudos da área de oncologia,
especificamente de próstata.
Nesta consulta explicou ele: a troca de um medicamento por
outro, não teria resultados, pois elas eram “primas” na sua composição. Além
disso, como o tumor tinha características de agressividade (Gleason 8). Sugeria
um tratamento também agressivo, para enfrentar o problema. O baixo volume de
doença era uma vantagem a ser aproveitada. As metástases estavam concentradas
nos ossos e com evolução controlada. O tratamento quimioterápico era o
recomendado. Acreditava que o paciente suportaria bem o tratamento. Pelo seu
estado físico e pelo astral apresentado.
Saiu da consulta com
mil questões. Não imaginava ter que enfrentar tão rapidamente, aquele monstro
imaginário, representado pela quimioterapia e seus efeitos colaterais.
Tinha algumas questões a resolver. Voltar ao seu oncologista
e dizer que não faria mais o tratamento com ele. Meu amigo tinha certo apego ao
médico, pois havia uma empatia e cumplicidade com ele desde o inicio . Mas a
família tinha razão: o tratamento não estava funcionando. E isto era o
fundamental.
Nestes dias, ainda comentamos sobre sua experiência ao CAPC (Centro
de Apoio ao Paciente com Câncer) em Florianópolis. Ele lembrava, que nestas
reflexões e nas dinâmicas, surgia uma questão central, para a felicidade e paz
interior dos participantes. Onde se perdeu a criança feliz que havia dentro de
nós? Fazer esta busca e resgatar era nosso grande desafio. Em que momento
começou a mudar, esquecê-lo ou esconder-se atrás de uma máscara ? Onde anda aquele
menino ou menina que brincava alegre e sem preocupações?
Fazer esta regressão é
buscar na infância, adolescência ou na vida, onde nos perdemos. Cada um tem suas
justificativas, para ter feito esta escolha, mas agora era o momento de
resgatar e trazer à tona, tudo aquilo que nos fazia felizes e íntegros.
Principalmente agora, para enfrentarmos as dificuldades de uma doença, ou para
todos que buscam a felicidade, longe das máscaras impostas pela família, pela
vida profissional ou pela sociedade, com seus estereótipos e padrões de
comportamento.
A propósito me falou de um livro recomendado: “O cavaleiro
preso na Armadura” de Robert Fisher, uma fábula para quem busca a Trilha da
Verdade. Fiquei de comprar, para ler e buscar a minha verdade!
Ponderei a ele, que todos deveriam fazer este exercício
salutar e as terapias têm esta finalidade. Até a pouco, se você falasse estar fazendo
terapia, logo era taxado de desequilibrando ou com alguma debilidade mental.
Na próxima semana , meu amigo terá decisões importantes a
tomar. Vai precisar ter fé, tranquilidade e acreditar que o melhor, ainda
estava por vir.
JT Brum 2018