segunda-feira, junho 10, 2019





30º Encontro : Nossas dores !!

Lá estávamos nós na Academia em mais uma manhã de primavera. Temperatura agradável, nem os aparelhos de ar condicionado tinham sido ligados. O burburinho dos colegas preenchia o espaço, num ambiente de coleguismo e fraternidade.

Embora a faixa etária dos participantes fosse muito variada, não se podia dizer que os mais jovens levavam vantagem na execução de seus respectivos exercícios. Os pesos e desafios de cada um , eram proporcionais às suas capacidades.

Meu amigo me confidenciou que estava sentindo dores na coluna. Lembrei a ele, que ele tinha um comprometimento nas vértebras L2 e L3.Até então ele não havia se queixado, mas a inclusão de novos exercícios de agachamento, lhe fazia muito bem para as pernas, forçava sua coluna. Divagamos um pouco sobre dores. Ponderei que todo o ser vivo tem dores. Nós humanos a partir de certa idade, conseguimos localizar e detalhar nossas dores.
Meu amigo lembrou que há dores físicas e mentais, que atualmente atingem todas as camadas sociais e idades. As depressões, os distúrbios neurológicos, as doenças adquiridas ou congênitas. São sofrimentos do paciente e dos familiares, que muitas vezes se sentem incapazes de ajudar a resolver a dor e o mal estar. Dizem que os suicidas sentem uma dor terrível, indescritível, que os impulsiona para o ato de desespero. Mas há dores emocionais, cuja origem pode ser do trabalho, de relacionamentos, de origem familiar ou outras situações. Os sintomas mais comuns são dor de cabeça, dores estomacais e dor nas articulações.
Neste contexto, entre homens e mulheres, o poder de resistência a dor, seguramente é maior das mulheres. Parece que pela destinação natural à maternidade, elas já são preparadas a resistir melhor às agruras . A dor de parto e o calculo renal dizem ser as mais fortes que ser humano enfrenta.
Mas há enfermidades, cujo processo de deterioração, vão minando as forças e causando dores gradativas, a ponto de ser estancada com a morfina ou com o desligamento de nervos condutores.
Ao longo da vida, quando jovens temos as dores naturais da idade e do momento que vivemos. Um braço quebrado, um tornozelo torcido, uma dor estomacal ou uma gripe muito forte. À medida que os anos passam , estas mesmas questões, passam a ser vistas como mais problemáticas e os cuidados redobram. Aos trinta anos uma gripe tem um efeito. Aos setenta anos, exige cuidados especiais. Mas uma dor de dente não tem idade e não deixa ninguém dormir. Vemos diariamente atletas saindo das quadras e campos de futebol, com dores e chorando, mas dias após, já estão recuperados e voltando as atividades. Uma artroscopia de joelho num atleta de vinte anos é um fato corriqueiro e pouco tempo depois está na ativa. Já num adulto, não atleta, é um processo complicado.
Sob o efeito da dor nada é confortável e aceitamos qualquer proposta para suprimi-la. As dores dispersas, as dores localizadas, são inconcebíveis no nosso padrão de estabilidade. Dores eventuais e dores permanentes, todas elas nos tiram do prumo, do bom humor e da graça de viver. A dor , além de impactar na qualidade de vida pode levar a limitações importantes que alteram a capacidade funcional do idoso , ainda mais se estiver associado a outros diagnósticos, como a Doença de Alzheimer, pois o paciente fica incapaz de relatar com clareza seu desconforto.
As dores são sintomas que algo não vai bem no nosso organismo e devem ser vistas como alertas. Mal de nós se , sem dores. Descobriríamos nossas doenças, já em fase avançada. Elas também nos temperam e nos deixam mais humildes, sem a prepotência inata do ser humano. Dizem os filósofos “o que não me destrói, me fortalece” As limitações que vem junto com elas e nos dão a dimensão da nossa finitude e do nosso futuro incerto. Hora de nos aproximar Dele, e pedir Sua proteção. Deveríamos fazer isto sempre, mas só nos lembramos de Santa Barbara quando troveja !
Finalizamos nossos exercícios , nosso papo e partimos para a lida, felizes por mais um dia pela frente. 

JT Brum 2019

segunda-feira, junho 03, 2019







29º Encontro Transfusões e seus benefícios


Nesta semana meu amigo não veio na Academia na segunda e terça feira. Pensei que algo deveria ter acontecido. Quarta feira o encontro cedo e já fazendo os exercícios. Um largo sorrido logo avisava que nada de mais havia lhe abatido, apenas uma transfusão de sangue. Isto para combater um pouco de anemia que teve, fruto das inúmeras quimioterapias.

Meu amigo falou como se sentia, antes e depois do processo. Como era mágico este procedimento. Pessoas cedem gratuitamente seu sangue, por caridade, generosidade ou solidariedade e vai para pessoas como ele, que necessita não de medicamento, mas um produto de origem humana como o sangue.
Ainda não temos nas farmácias , por preço nenhum, 200ml de sangue tipo A. Dependemos de alguém que possua e queira doar.
Muitos doam para seus conhecidos e familiares, mas tem muito mérito, os doadores para dos os bancos de sangue, doadores anônimos que fazem o bem, sem se preocupar a quem vai beneficiar. É isto que chamamos de solidariedade do ser humano.
Mas a há outras formas de transfusões, que muitas vezes não nos damos conta. Os gestos de carinho e afeto, os exemplos e em especial as palavras bem colocadas e na hora certa.
Meu amigo dizia ser uma pretensão sua, fazer de seus textos “transfusões” de exemplo, de incentivo e de apoio a quem em situação semelhante possa precisar.

Estas palavras têm que ter o peso e o tipo próprio de cada leitor. Uma metáfora para que estas palavras possam fazer bem, sem criar dúvidas ou mal entendidos.
Acrescenta meu amigo, receber tantas “transfusões” após publicar cada texto, recheadas de carinho, incentivo, elogios, generosidade, sente-se mais forte para se concentrar no próximo texto, pressionado pela responsabilidade que vem junto.

No dia a dia, com nossos familiares, amigos e conhecidos, também fazem estas “transfusões”. Damos e recebemos. Vale um telefonema, uma visita. A qualidade destas trocas é o que gera um ambiente salutar e propicio ao desenvolvimento do ser humano. Sentia-se renovado com um telefonema ou com a visita dos amigos, nos seus dias mais difíceis.
Na Academia temos amigos convalescentes. Uma palavra de estimulo, apoio e compreensão, serve de “transfusões” pequenas ou grandes, dependendo da receptividade , disponibilidade e sinceridade de quem dá e de quem recebe.
Meu amigo me mostrou um texto escrito há algum tempo atrás, quando iniciou o curso de Escrita Criativa, ali revela ao pensamento sobre porque escrever, ainda sem se dar conta da terapia deste ato.

“Porque quero escrever?: Há muito tenho este desejo. Na medida em que os tempos passam, hoje com 70 anos, acredito ter uma estória para contar. Quem ler terá noção mais clara, de quem fui e como passei por esta vida e como conquistei meu espaço. Eu próprio vou fazer uma imersão na minha infância, meninice e juventude. Terei o distanciamento necessário para admitir os erros e acertos? Tenho consciência que devo planejar bem para não tornar enfadonho o texto. Deve ser envolvente e com surpresas. Será minha realização pessoal. Espero “que as quimioterapias que me ajudam contra o câncer, não sirvam de empecilho nas minhas tarefas.”

Passados dois anos, ele segue seu caminho, com firmeza e determinação. Pode-se dizer bem sucedido até certo ponto, pois a persistência e disciplina, aprimoram seus textos a cada dia.

JTBrum 2019