21º Encontro Reflexões sobre a vida.
Fui à Academia, naquela manhã de
primavera, em que o tempo homenageava a vida. Chegando, vi o meu amigo
conversando com outro companheiro – que também enfrentava uma situação de saúde
momentaneamente adversa –, e com dois professores. O tema prometia: falavam
sobre a fragilidade da condição humana.
Meu amigo expunha que na semana
passada tinha escutado alguém cético, depois de visitar uma clínica de idosos,
afirmando que o homem é como uma casca de noz na correnteza, incapaz de
controlar o rumo da sua própria vida, sendo levado em frente mesmo contra sua
vontade, impulsionado pelas circunstâncias aleatórias, boas ou más.
Naquele mesmo instante me lembrei
de uma frase, que ouvi de meu pai ainda criança, e a repeti a eles: “Um braço vigoroso não é mais aguerrido
contra a lança do que um braço frágil; são o caráter e a coragem que fazem o
guerreiro”. Em outras palavras, a grande chave que abre as portas da vida
plena está na mente e não no físico.
Mesmo que se esteja ocasionalmente vivendo uma
situação de redemoinho, com a
sensação de que não podemos mudar o curso inexorável dos acontecimentos, ainda
assim é possível observar que sempre há alternativas e opções de conduta para
lidar com a situação – qualquer que seja a adversidade do momento.
Ouvi do meu amigo e dos outros
companheiros que estavam ali reunidos gestos de confirmação plena dessa
verdade. Um deles disse que, mais do que uma convicção, esse é um sentimento
intuitivo, com a percepção formada ao longo da existência.
Acrescentei que somos de fato,
todos nós, pessoas complexas, e todos podemos sentir ou demonstrar certa
fragilidade, mas somos, na realidade essencial, forjados de algo que transcende
substancialmente a matéria aparente, e aí seguimos movidos por forças
extraordinárias que nos emocionam e orientam a cada novo dia para os melhores
caminhos.
Assim, mesmo que não tenhamos resposta para
diversos acontecimentos de nossa vida, e às vezes com a consciência de que não
sabemos enfrentar determinada situação, há algo que nos move para diante. Ao
reconhecer certas limitações para seguir num determinado rumo, que em princípio
nos pareceria o preferível, a verdade é que, a partir desse reconhecimento da
própria fragilidade física, e da consciência da fortaleza moral, se apresentam
outros tantos caminhos a serem percorridos.
A consciência da limitação ou da imperfeição,
com a certeza de que somos amados apesar de tudo, são os elementos que nos
fazem verdadeiramente humanos e nos fortalecem para a tomada das pequenas ou
grandes decisões de cada dia.
O meu amigo observou, sobre esse
ponto, que, quando deixamos de pensar apenas em nós e somos capazes de sentir
as dores do outro, de ter compaixão e de vibrar com a descoberta das espantosas
estradas que se abrem para cada um de nós, não importa em que circunstância da
existência nos encontre, aí estará à essência da vida.
Nossos vínculos com a sociedade,
com os amigos, em especial com nossa família, nos amarram e ligam como
participantes deste processo, independente do poder aquisitivo, nível social ou
cultural de cada um de nós.
Na Academia vemos isto
diariamente. São pessoas, seres humanos, numa sociedade em busca de qualidade
de vida, de saúde, e muitas de convívio social. Muitos têm nos amigos da
Academia, seus únicos pontos de referencia e seus pontos de apoio. Outros,
calados, fechados na sua ilha de isolamento, não tomam conhecimento sobre o que
se passa ao seu redor, entram e saem , sem compartilhar nem participar da vida
aos demais integrantes. Quem está certo? A vida dirá.
Feitos os exercícios do dia,
saímos todos para nossas casas, com o eco dessas constatações e sob a luz da
primavera.
JT Brum 2019