segunda-feira, janeiro 21, 2019



20° Encontro: Pelo retrovisor

Estamos quase no fim de ano. Época de arrumações, planos de férias, balanço do que se passou. Eu e meu amigo não somos diferentes e nossa atividade na Academia continuava a pleno vapor e os planos também.
Propus a ele, rever fatos que juntos passamos nestes últimos dois anos, em especial neste ultimo, que ainda estão mais presentes na nossa memória. Foram dias de alegrias intercalados por alguma angustia. Nossos encontros serviam de amortecedor e anteparo, para os solavancos desta estrada, sinuosa e com muitos percalços.
Relembramos os primeiros dias da suspeita, da recomendação da biopsia e do tiro fatal do diagnóstico. A confirmação do câncer.
A partir daí, a historia não precisa se recontada, nem relembrada. Tivemos bons momentos entre nossos exercícios e bate-papos. Muitos de extremo gosto e humor, outros de suporte e conforto, de amigo para amigo.
Tenho testemunhado a força e a fé com a luta para vencer suas batalhas diárias. Nem sempre bem sucedido no primeiro momento, mas logo em seguida, recupera-se e segue em frente. Cair e levantar. Buscar forças em Deus. Ele me agradece e diz que sou generoso em minhas palavras.
Um fato ele fez questão de relembrar, foi o encontro com meu filho, na Academia. Do olhar de espanto dele, quando o apresentei como o amigo, pelo qual rezávamos em família, todas as noites . Rezamos por muitos amigos doentes, alguns em grandes dificuldades de saúde. Quando ele ouviu o nome, arregalou os olhos e deve ter pensado, este não precisava das suas orações!!
Meu amigo disse saber que, muitos rezam pela sua saúde. Pessoas sem muita afinidade e também pessoas próximas. Reconhece no entanto, as suas próprias orações não têm a intensidade e a fé necessárias, para promover a cura. Nisso lhe ajudava muito os períodos passados no CAPC, no Ribeirão da Ilha. Era como estar no céu , aqui na terra.
Nos dias atuais, meu amigo passava por um período de trégua na medicação (quimioterapia). A avaliação do comportamento do tumor, nos próximos meses, determinaria a estratégia a se adotada. Como era assintomático, ao menos teria um fim de ano, sem as complicações e efeitos colaterais da medicação.
Meu amigo fez menção também da iniciativa de fazer um curso de Escrita Criativa. Sua opção para canalizar na escrita suas tensões , emoções e criatividade parecem ter dado certo. Ele está muito motivado e conta dos escritores famosos que tem se apresentado no curso e como obtiveram sucesso: Trabalho. Trabalho e Trabalho. Nada vem pronto. Isto de certo modo confirma o que diz o escritor Haruki. “Há que se ter certo talento, mas concentração e perseverança é a chave para a grande maioria dos mortais que se dedicam a escrever e conseguir algum sucesso.”
Entediado e baixo astral, se junta à falta de inspiração, e ai o texto não flui. Os pensamentos ficam repetitivos, e a seleção torna-se cansativa. Por isso persistência e concentração. Saber do tempo dedicado a escrever tem que ser bem aproveitado e eficientemente produtivo.
Pinçar detalhes e fatos ao nosso redor. Ouvir opiniões e revisar os últimos dias, nos ajuda a moldar, de forma organizada os pensamentos e colocar no papel aquilo, para nosso leitor mergulhar e sentir. Sentir empatia com o texto.
Meu amigo alega nestes dias de fim de ano, com tanta agitação e reboliço, tem tido dificuldades, para colocar nos textos, com exatidão o que muitas vezes se passa na sua cabeça e reproduzir nossas conversas. Possivelmente um mecanismo de freio e preservação esteja sendo ativado, inconscientemente e ele sinta-se invadido, no seu interior. Sempre temos coisas só nossas, pequenas dores que não nos queixamos e desagrados da alma que não confessamos. Os seres humanos são complexos, independente da idade, da saúde ou nível social. Nem por isso desiste. Continua a buscar palavras adequadas e frases que correspondam ao seu íntimo e que façam sentido para os leitores. Não quer transformar seus escritos numa via sacra de sacrifícios e peripécias, num relato de prontuário médico, onde pode-se ler as melhoras e quedas da qualidade do tratamento. 

JT Brum 2019

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário