segunda-feira, setembro 24, 2018




4º Encontro :

Os primeiros passos da jornada.

 

Voltamos a nos encontrar na Academia. Parecia ter assimilado o baque do diagnostico e a confirmação dos exames. Seguíamos fazendo os exercícios todos os dias e conversando sobre assuntos diversos e vez por outra, sobre as novidades do tratamento.

Nesta semana tinha consultado um especialista em próstata. Após ver todos os exames, propôs uma vacina desenvolvida por uma universidade de Porto Alegre , da qual ele participara como Coordenador e em período de testes. A amostra era de quinze participantes.

 Na conversa, seu oncologista disse conhecer o projeto, mas que cientificamente não havia dados para validar a pesquisa, não só pelo grau de abrangência (apenas quinze amostras) mas também pelo tempo de aplicação (menos de dois anos). Havia outras pesquisas americanas , com resultados divulgados. No entanto, como a evolução dos tratamentos é muito acelerada e os medicamentos utilizados , já não serem mais compatíveis com os dias atuais, o que as torna obsoletas.  O número de drogas destinadas ao tratamento, crescia geometricamente , sendo muito positivo , mas também criava o desafio de escolher a droga certa, para cada tipo de câncer e de acordo com o paciente. Este o trabalho primordial do oncologista.

A família queixava-se , pois da boca de cada especialista surgiam sugestões e alternativas de tratamentos muito diferentes . As faculdades de Medicina pareciam ensinar conteúdos diferentes , para cada grupo de médicos. Os protocolos para tratamento de câncer de próstata, eram diferentes entre si. Isto gerava uma angústia e ansiedade, pois sem conhecimento técnico para avaliar as alternativas, os pacientes e familiares, acabavam levando aos oncologistas escolhidos e debatendo com ele estes assuntos. Acabava na base da confiança e de entregar nas mãos de Deus.

Esta questão está muito presente em viários tipos de enfermidades, especialmente as mais complexas, onde cada especialista aponta uma solução para o caso, deixando os pacientes e familiares aturdidos, sem saber que rumo tomar. Cirurgia?  Tratamento medicamentoso, quimioterapia ,radioterapia , não fazer nada no momento ? São decisões que definem a vida e o bem estar do paciente.

O desafio agora era baixar o PSA. Para bloquear o sistema de proliferação do tumor, era necessário cortar seu combustível : a testosterona. Com isto, atrofia e pára de enviar metástases para o organismo. Uma medicação especifica para isto estava sendo ministrada. Mensalmente faria exames para acompanhar a evolução do marcador.

Este tratamento tinha implicações, do ponto de vista físico e psicológico. O papel da testosterona , no organismo masculino é responsável não só pela libido, mas também pela energia necessária , para manter a maquina em bom funcionamento. Perderia o gosto e o interesse pelas belezas da vida? Embora com mais de sessenta e cinco anos ainda tinha a cisma e os arroubos da juventude.

Não tinha escolha. Era pegar ou largar. Seus medos estavam alicerçados na busca do prazer e no medo da dor.  Fazer o tratamento significava buscar as chances para conseguir uma sobrevida, em melhores condições e qualidades de vida possíveis. Como meu amigo era assintomático ,tudo parecia ficar mais fácil. O resto só o tempo mostraria.

As atividades na Academia mantinham-se iguais, até um nível acima, pois buscava compensar e testar os primeiros efeitos do tratamento no organismo. Empenhava-se no grupo de corridas, fazendo os mesmos percursos e tempos, dos demais companheiros.

J T Brum 2018

segunda-feira, setembro 17, 2018



Exames complementares:
 
Já era sexta feira, não tinha aparecido na academia. Sabia da viagem, tranquilizei-me. No horário de sempre , lá veio ele sem chamar atenção. O cumprimento, um aperto de mãos , quase um abraço apertado. Perguntei da viagem. Balançou a cabeça, afastou-se do grupo , discreto, começou a contar. Aproveitara a viagem para visitar uma feira de negócios em São Paulo e realizar consulta e exames.
A visita ao oncologista, estava marcada para o fim da tarde de terça feira. O especialista, menos de quarenta anos, apresentava diplomas e certificados nacionais e residência em hospitais do exterior. Com muita calma, depois de exposto o problema, foi lendo o laudo da biopsia , fazendo perguntas sobre os hábitos e eventos médicos da vida pregressa. Disse precisar com urgência de exames complementares, para fazer uma avaliação mais detalhada e profunda do caso. Na condição de paciente, ficou pouco confortável com os questionamentos e afirmações do médico , mas entendeu como pertinentes as questões levantadas.
Alegou retornar à Porto Alegre na quinta feira, quando faria os exames. Os recursos da grande capital permitem fazer os exames em qualquer horário, disse o doutor. De dia ou de noite. Fez a prescrição dos exames e juntou o telefone de um centro de imagem, trabalhando 24 horas:
Ressonância Magnética do Abdômen Superior, do Tórax ,cintilografia , ultrassonografia do Abdômen Total.
O horário agendado para os exames : às 2 horas da madrugada. Na hora certa estava lá. Poucas horas depois, de volta ao hotel, com todos em mãos.
Dia seguinte nova consulta e exames revisados. A confirmação do diagnóstico e extensão, as recomendações de tratamento e posturas frente à doença. Além da medicação que já estava tomando , deveria ser adicionado o Zometa, um reforço para os ossos.
Falou também tratar-se de uma doença crônica, com diabetes, hipertensão e outras, exigindo tratamento e cuidados permanentes. Segundo, a forma de enfrentar o tratamento, com cabeça boa e exercício físico. Estas duas coisas meu amigo tinha a vontade!!
Sempre pensava positivo e adorava malhar. A presença na academia , era uma constante, fazendo parte inclusive, dos grupos de corrida.
A família acompanhava de perto os passos , os resultados dos exames e avaliação das consultas. Outras estavam para ser marcadas, mas deveria voltar ao oncologista escolhido. Estava numa saia justa, como se estivesse traindo ou não confiasse nas recomendações e tratamento indicados por ele. Teria de abrir o jogo, até para poder usar e confrontar as informações recebidas por outros profissionais.
Sem saber objetivamente a razão, decidiu junto com a esposa, não abrir o problema de saúde , para terceiros. Só a família e parentes mais próximos, tomaram conhecimento. Sentia-se com portador de uma moléstia contagiosa ou terminal . Quem sabe, por sentir pena de si mesmo , queria evitar o coitadismo, uma preocupação crescente nos sentimentos tão variados nestes últimos dias.
Falávamos destes temas sem reservas, mas evitava qualquer comentário com outros amigos da academia, em especial no meio profissional, onde era empresário.
Comentou o resultado da cintilografia, detectando metástases na coluna, na vértebra L1 e hipercaptação de contraste na L2. O aspecto positivo das ressonâncias de abdômen e tórax foi não haver nada nos tecidos moles. Todos preservados.
Aos poucos, os treinos na academia voltaram ao normal. Precisava canalizar suas energias, para a recuperação da autoestima e do bom humor. Com isto, o corpo também ganhava forças , para absorver os tratamentos vindouros e o stress .
J T Brum 2018

 

sexta-feira, setembro 14, 2018



Mais um encontro !!
Mais um encontro.(1) O ponto de encontro era na Academia. Ali todas as manhãs, fazíamos um bate papo, trocas de opiniões e até exercícios. Numa manhã dessas, estava com o semblante mais fechado. Parecia agoniado.
 Procurei descontrair a conversa. Logo abriu o coração e derramou as angustias. Tinha ido ao médico, o prognóstico não era dos mais auspiciosos. Deveria fazer uma biopsia. A suspeita era de câncer de próstata. Procurei acalmá-lo, afinal era só uma suspeita. Precisava ser comprovada tecnicamente. Aquele dia, não rendeu mais nosso papo, por mais buscasse outros assuntos, entre um exercício e outro, sempre voltava às s preocupações. Devo confessar, julgava procedentes as aflições.
 Não encontrava palavras para amenizar ou desmanchar aqueles pensamentos sombrios. Sabia ser esta fase, um tormento para pacientes e familiares. Todos ficam preocupados, com a possibilidade de um diagnostico ruim . Uma sentença de morte.
 Não se consegue racionalizar, por mais fé , ou cabeça boa. Os pensamentos são sombrios e apontam na mesma direção. As pesquisas no Google ou conversas ao pé do ouvido com amigos ou até médicos conhecidos da família, são inevitáveis até alentadoras. Mas quando vem a noite, tudo fica para trás. Somos nós, com nosso problema , na busca de esperanças e soluções. As horas passam, o sono não vem. O cansaço toma conta , dorme-se vencido, quando já é quase dia.
 Soube, no dia e hora marcada, lá estava cedinho, para fazer o exame. A sina não era exclusividade, pois encontrou ali muitos homens , para realizar o mesmo exame. Nada tinha importância. Só interessava o dele naquele momento.
A urgência da resposta, o fez esquecer as etapas incomodas e desconforto da retirada de fragmentos da próstata. Tudo se justificava para saber a verdade desta sentença. Tudo se apequenava ou se resumia nisso. A história passada, presente, sucesso pessoal e profissional, nada tinha valor agora. O futuro se resumia nesta perspectiva de saúde. Nem mesmo os tipos de tratamento ou medicação, entravam nesta análise.
 Era um pensamento objetivo, reto e direcionado , para ter a vida de novo , no controle , como estivera até então. Três dias úteis para ter acesso aos resultados, fazia parte deste martírio . Nada podia ser feito, para abreviar ou acalmá-lo.
 A família procurava ser solidária ,dar apoio, mas isto não era o bastante. Aos filhos precisava consolar. Aos pais , escamoteava as apreensões. Para a esposa, não podia demonstrar toda a fraqueza, para não desesperá-la. Noites mal dormidas ainda deviam ser ultrapassadas, até ter acesso aos resultados da biopsia e a libertação deste pesadelo.
 
JTBrum 2018







SENTIMENTOS E PERCEPÇÃO
Neste espaço quero passar aos amigos e pessoas que embora distantes, tem familiares, amigos ou conhecidos, vitimados por doenças que não tem cura imediata, ou por molestias que só a fé ou a medicina moderna, pode curar.
Nesta série de artigos, vou expor , o dia a dia de quem vivencia esta expectativa de prolongar a vida e ter uma qualidade e vida digna .
Ai vai o primeiro artigo.,
Abraço ,
J T Brum 2018